Meu espiral

Meu espiral

Um dia lindo como esse e eu aqui, tendo que visitar o tal do Museu Brasileiro da Contabilidade. Esse ônibus nojento com essa gente falsa. Odeio essas pessoas. Só querem saber de dinheiro e formalidades. Elas querem viver com esse sorriso prostrado pra sempre? Não eu.

Juro, vou terminar esse curso e me mandar. Fodam-se meus pais e seus planos. Vou colocar meu japonês em prática e visitar o Monte Fuji. Nossa, imagina chegar lá em cima e fazer um trezentos e sessenta? Tá, ok, não sou alpinista, então tá bom capturar lá de baixo mesmo.

Queria mesmo era ter ficado em casa, treinando com as plantas do meu jardim mais uma vez. Só que minha mãe ia me aporrinhar, ela sabia que eu tinha passeio hoje. Ela e a professora Isadora DelCabo, minha professora de Administração Financeira, não se desgrudam. A sorinha vai lá em casa tomar vinho com a mãe e falar sempre dos seus mesmos coleguinhas da época da faculdade.

Alguém bate uma foto nossa?, gritou a Marta pro ônibus, como se não soubesse quem era a fotográfa da turma. Odeia essa menina, sempre puxando o saco do Rogério. Me pergunto se o motivo de tanta babação de ovo é aquele terno. Bem, acho que, na real, é a empresa que o pai dele tem. Marta, querida, ele tem um irmão mais velho, tá?

Não fiz esforço nenhum pra sair do lugar, só estiquei meu braço na diagonal. Apertei o botão. Olhei. Nossa, ficou a coisa mais horrenda do mundo. Tive que me levantar. Todos fizeram pose, mas fingi que havia batido várias, só pra ver a cara de abobados de todos. Eles continuaram o falso divertimento na sua falsa vida. Continuei em pé, olhando, só esperando a sinaleira fechar.

Acho que a Geisy falou alguma coisa e o Augustus parecia que ia perder a boca de tanto rir. Odeio a risada do Augustus, como ele me incomoda. Um: ele sempre usa aqueles óculos ridículos. Sol, chuva, não importa. Augustus tá sempre com aquela porcaria preta na cara. Dois: Ele tem aquelas orelhas gigantes. Quem tem orelhas tão grandes assim? Me pergunto se ele usa óculos pra tentar esconder as orelhas. Três: por que Augustus? Assim, esse nome é muito estranho. Vontade de perguntar para a mãe dele se ela não sabia falar português quando deu esse nome a ele. Augustus é o centro do meu espiral, mas foda-se. Ele sempre foi o destaque maior da turma mesmo.

 

Texto feito em aula para avaliação da disciplina Escrita Criativa: Fundamentos – PUCRS – Prof. Luiz Antonio de Assis Brasil
Foto: https://goo.gl/uFMzAv
Fernanda Batista
Fernanda Batista