Um menino sentou no banco da minha frente. Ele olhava para mim com uma certa admiração, mas eu o evitava.
Oi, ele disse sorrindo.
Não sabia se respondia ou não.
Oi, me passou na cabeça que poderia ser assalto.
Não pense assim, isso é tão triste.
Como assim?
Você acha que eu vou te fazer mal, mas não vou. Só quero te dizer uma coisa.
Tá.
Tô apaixonado por você.
Meu coração acelerou e eu esbocei um engasgo, mas tu nem me conhece, guri!
Conheço, sim! Sei que te falta confiança por causa dos medos, dos problemas que já teve na vida, das perdas inevitáveis que fazem teu coração sangrar.
Qualquer pessoa é assim, moço.
Ele bufou.
Pra ti ver como te conheço, sei que teu sorriso é lindo.
Mas eu nunca s… tá me seguindo?
Para com esse medo! Se não assim tu nunca vai viver uma vida feliz.
Eu olhei pro cobrador, mas ele olhava para a frente do ônibus. Olhei pra trás e percebi que só existíamos nós dois de passageiros. Segurei forte minha mochila.
Tudo bem, não se assuste, eu já vou saltar. Só queria dizer que te amo e que teu sorriso ilumina o mundo, sim!
Ele puxou a cordinha. Um apito invadiu minha mente.
Só não esquece de botar pra fora tudo que tá nesse peito.
Ele piscou pra mim. O ônibus parou e ele desceu. Algumas pessoas embarcaram, conversando. Uma delas me olhou e disse que eu tinha deixado um papel caído no chão. Agradeci e peguei o papel dobrado. Abrindo uma vez, vi a mensagem:
“Te deixo como presente minha liberdade aprisionada nesse papel”.
Ao desdobrar a folha por inteira, havia um gracioso desenho de asas de anjo.