Nunca use G!

Nunca use G!

Uma vez eu estava na fila do caixa de uma loja de roupas. Esperava atrás de uma senhora que estava acompanhada de sua filha iniciando a adolescência. Eu estava com uma blusinha na mão e esperava tri faceira a minha vez.

A menina da minha frente se afastou e foi olhar algumas roupas em um cabide próximo. Não muito tempo depois, ela voltou com uma peça de roupa em mãos e perguntou para sua mãe: “mãe, vou levar mais essa daqui tá? O problema dela é que o tamanho é G”. A mãe puxou a blusa da mão da menina e disse enfurecida: “bem capaz que filha minha vai usar G! G é para gorda!” Então olhei para a etiqueta da peça que estava prestes a comprar e  nela dizia XGG.

Por um instante me senti supermal. Fiquei infeliz, era como um pedaço de pano sujo e estava prestes a chorar. Queria ter saído correndo e começar uma dieta naquele mesmo momento. Vim para casa, com a roupa nova e também com o peso extra do meu corpo e com o peso das palavras daquela senhora.

Mas depois de um tempo eu entendi. Passei a me perguntar: como uma mãe tem coragem de dizer isso para sua filha? Para uma pessoinha que está passando por uma fase de formação de caráter e decisões. Meu problema não era o M ou G ou GG do tamanho da minha roupa, a indignação era com a atitude daquela senhora! Como pode ser tão escrava de um padrão de beleza? Ao meu ver, a senhora está dizendo para a filha que se ela fosse diferente do padrão não teria mais filha. E ser ou estar gorda é ser doente.

Me senti indiretamente agredida. Por que  o tamanho do corpo de uma pessoa incomoda tanto as outras? Por que eu sou errada na sociedade? Simplesmente conclui que a saúde da sociedade está mais doente do que a minha saúde, do que a saúde de um gordo.

Sou do jeito que sou e sou bonita do jeito que sou. O meu 48 de calça nem o meu XGG da minha blusa não definem meu caráter. Sei que a ideologia imposta pelo marketing é muitas vezes mais fortes que o nosso próprio pensamento, mas acho que já está na hora de ensinar nossos filhos a aceitar quem eles são. O número da roupa não muda a pessoa interior, mas educar para não aceitar o diferente só encadeia um loop infinito discriminação. É hora de ensinar objetivos de vida e não a sonharem com uma vida de aparências.

Só sei que meu objetivo é ser feliz e claro, nunca usar G. Ou seja, usar o que eu quiser e o que eu puder.

Fernanda Batista
Fernanda Batista